SOLIDÃO ENTRE JOVENS EXPÕE EPIDEMIA EMOCIONAL EM PLENA ERA DIGITAL

Para a psicóloga Ana Paula Medeiros, doutoranda pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, o excesso de conectividade, longe de criar laços duradouros, tem promovido relações cada vez mais superficiais. “Estamos numa era em que tudo acontece rápido. As conexões são instantâneas, mas efêmeras. Falta profundidade nos vínculos”, explica.
Essa superficialidade, segundo a especialista, gera efeitos colaterais. “Nas redes sociais, as pessoas acabam se comparando o tempo todo. Isso favorece a inferiorização, principalmente entre os jovens, que estão em fase de construção da autoestima.” A busca incessante por likes, validação e filtros estéticos também contribui para sentimentos de inadequação e isolamento.
Já o professor Marco Antônio de Almeida, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, observa que essa epidemia emocional está fortemente relacionada às transformações da sociedade contemporânea. Ele recorre ao conceito de “modernidade líquida”, proposto pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, para explicar a fragilidade dos laços atuais. “As relações hoje são voláteis, descartáveis. A lógica da performance e da produtividade faz com que os jovens moldem suas vidas com base na opinião dos outros. Isso afeta diretamente o senso de pertencimento e a identidade.”
Revolução tecnológica

Segundo ele, a revolução tecnológica aproximou virtualmente, mas afastou fisicamente as pessoas, incluindo os jovens. E a consequência disso é o aumento da solidão: “Há uma ilusão de que estamos mais conectados, mas, na verdade, há menos contato humano real. Isso mina o desenvolvimento emocional e a estabilidade social dos jovens”.
Embora a solitude, ou seja, o momento de estar só por escolha, possa ser saudável, estimulando o autoconhecimento, os especialistas alertam que a solidão prolongada traz impactos graves. “Quando essa solidão interfere negativamente na vida social, nos estudos, no trabalho e no bem-estar, ela se torna um sintoma preocupante. É um ciclo difícil de romper”, afirma Ana Paula.
Entre os sinais mais recorrentes estão depressão, ansiedade, dificuldades cognitivas e problemas físicos. O professor Almeida defende que, para reverter esse cenário, é preciso ir além do diagnóstico e propor mudanças culturais: “Reduzir o tempo de uso das redes, valorizar atividades coletivas, investir em cultura, em arte e em práticas que promovam vínculos reais. O combate à solidão é também um esforço coletivo”.
A psicóloga Ana Paula reforça que romper o ciclo da solidão exige atenção contínua ao bem-estar emocional. “É fundamental criar espaços de escuta e acolhimento. A juventude precisa se sentir pertencente a algo, não apenas conectada”, afirma. Ela também destaca a importância de políticas públicas voltadas à saúde mental, principalmente nas escolas e universidades, onde muitos jovens enfrentam o problema em silêncio.
Fonte: Jornal da USP/Susana Oliveira - Ferraz Júnior - Gabriel Soares
#usp #solidão #tecnologia #digital #jovens #comportamento