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SOLIDÃO ENTRE JOVENS EXPÕE EPIDEMIA EMOCIONAL EM PLENA ERA DIGITAL

A revolução tecnológica aproximou virtualmente, mas afastou fisicamente as pessoas, incluindo os jovens Foto: Freepik

Apesar de viverem imersos em redes sociais, chamadas de vídeo e interações constantes por mensagens, milhões de jovens enfrentam, silenciosamente, um dos problemas de saúde mais preocupantes do século: a solidão. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgados em junho deste ano, revelam que uma em cada seis pessoas no mundo sofre com solidão, um fenômeno que afeta profundamente o bem-estar emocional e físico, sendo associado a cerca de 871 mil mortes por ano. Entre os mais afetados estão os jovens de 13 a 29 anos, dos quais 17% a 21% se sentem solitários com frequência.

A imagem mostra uma mulher de cabelos longos e escuros, pele clara e sorriso aberto. Ela tem sobrancelhas bem definidas, olhos castanhos e usa maquiagem leve, com batom em tom suave. O fundo é neutro, em degradê do cinza claro para o branco, destacando seu rosto. Ela transmite uma expressão amigável e acolhedora.
Ana Paula Medeiros – Foto: Arquivo pessoal

Para a psicóloga Ana Paula Medeiros, doutoranda pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, o excesso de conectividade, longe de criar laços duradouros, tem promovido relações cada vez mais superficiais. “Estamos numa era em que tudo acontece rápido. As conexões são instantâneas, mas efêmeras. Falta profundidade nos vínculos”, explica.

Essa superficialidade, segundo a especialista, gera efeitos colaterais. “Nas redes sociais, as pessoas acabam se comparando o tempo todo. Isso favorece a inferiorização, principalmente entre os jovens, que estão em fase de construção da autoestima.” A busca incessante por likes, validação e filtros estéticos também contribui para sentimentos de inadequação e isolamento.

Já o professor Marco Antônio de Almeida, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, observa que essa epidemia emocional está fortemente relacionada às transformações da sociedade contemporânea. Ele recorre ao conceito de “modernidade líquida”, proposto pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, para explicar a fragilidade dos laços atuais. “As relações hoje são voláteis, descartáveis. A lógica da performance e da produtividade faz com que os jovens moldem suas vidas com base na opinião dos outros. Isso afeta diretamente o senso de pertencimento e a identidade.”

Revolução tecnológica

A imagem mostra um homem de cabelos curtos e grisalhos, com barba e bigode também grisalhos. Ele usa óculos de armação escura e veste uma camisa polo roxa. Está sorrindo e olhando para o lado esquerdo da imagem, transmitindo uma expressão simpática e descontraída. O fundo é composto por uma parede azul e parte de uma estrutura branca.
Marco Antônio de Almeida – Foto: FFCLRP

Segundo ele, a revolução tecnológica aproximou virtualmente, mas afastou fisicamente as pessoas, incluindo os jovens. E a consequência disso é o aumento da solidão: “Há uma ilusão de que estamos mais conectados, mas, na verdade, há menos contato humano real. Isso mina o desenvolvimento emocional e a estabilidade social dos jovens”.

Embora a solitude, ou seja, o momento de estar só por escolha, possa ser saudável, estimulando o autoconhecimento, os especialistas alertam que a solidão prolongada traz impactos graves. “Quando essa solidão interfere negativamente na vida social, nos estudos, no trabalho e no bem-estar, ela se torna um sintoma preocupante. É um ciclo difícil de romper”, afirma Ana Paula.

Entre os sinais mais recorrentes estão depressão, ansiedade, dificuldades cognitivas e problemas físicos. O professor Almeida defende que, para reverter esse cenário, é preciso ir além do diagnóstico e propor mudanças culturais: “Reduzir o tempo de uso das redes, valorizar atividades coletivas, investir em cultura, em arte e em práticas que promovam vínculos reais. O combate à solidão é também um esforço coletivo”.

A psicóloga Ana Paula reforça que romper o ciclo da solidão exige atenção contínua ao bem-estar emocional. “É fundamental criar espaços de escuta e acolhimento. A juventude precisa se sentir pertencente a algo, não apenas conectada”, afirma. Ela também destaca a importância de políticas públicas voltadas à saúde mental, principalmente nas escolas e universidades, onde muitos jovens enfrentam o problema em silêncio.


Fonte: Jornal da USP/Susana Oliveira - Ferraz Júnior - Gabriel Soares



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